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  • Foto do escritorFernando Monfardini

98 anos da Resposta Histórica do Vasco: o que nos ensina sobre ESG (Governança, Ambiental e Social)?

Para contextualizar os que não conhecem o episódio, a Resposta Histórica do Vasco foi a recusa da instituição em excluir 12 de seus atletas, considerados pela liga carioca da época (AMEA), como pessoas de índole e origem e profissão duvidosa, apenas por serem negros, analfabetos e operários, o que na época não era aceito pelo futebol ser um esporte da elite branca.


Em 1924, a AMEA, presidida por Arnaldo Guinle, envia para o Vasco um comunicado dizendo que o Clube, então campeão carioca invicto, era bem-vindo, mas seus atletas não, considerando como condição para participar do campeonato a desfiliação desses atletas. O Vasco responde, com a chamada Resposta Histórica:


"São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias."

Com esse documento o Clube bravamente se insurge contra o racismo e elitismo imposto no futebol, culminando com a construção de São Januário em 1927, em grande parte pelas mãos da torcida e contribuindo com o fim do elitismo do futebol, que se tornaria o esporte mais popular do mundo.


Mas o que é ESG e o que isso tem a ver com a Resposta Histórica? Calma, serei breve no raciocínio, tanto para explicar o tema como associá-lo ao Clube.


ESG é uma sigla para o termo em inglês Environmental, Social and Governance, que significa Meio Ambiente, Social e Governança. Basicamente, consiste em práticas de governança que estruturem as organizações para unirem as atividades fins, seus processos internos e seus resultados às práticas que contribuam com causas além do resultado financeiro, como práticas sustentáveis para o meio ambiente, inclusão e igualdade social.












Esse tema é um dos mais badalados no mundo corporativo hoje, tanto pela mudança de comportamento social, que cobram das organizações pautas mais responsáveis e direcionaram investidores para essas causas, como pela criação do Pacto Global da ONU, que criou 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis, numa rede global que une empresas, ONGs e entes públicos.


Como o assunto está em voga e se tornou uma tendência com alta movimentação financeira, várias empresas buscam tratar do tema, levantando diversas bandeiras sobre o assunto. O problema é que, em muitos casos, não passa de discurso e marketing. Criam documentos, fazem campanhas publicitárias, mas não se comprometem com o tema e nem colocam sua governança para funcionar em prol disso.


Daí vem o chamado greenwashing, pink Money, green Money e afins. A causa existe só até onde podem se beneficiar, não há o compromisso com as práticas de ESG, não buscam mecanismos para alcançar os objetivos.


No futebol já vimos casos semelhantes, com clubes criando campanhas em datas comemorativas, mas não se comprometendo quando acontece algum problema como racismo e homofobia. O compromisso acaba na hora do comprometimento de fato.

Beleza, mas e a Resposta Histórica?


O raciocínio é simples. O Vasco, 98 anos atrás, antes dos movimentos pelos direitos civis, antes dos primeiros debates sobre sustentabilidade, se insurgiu contra o racismo, mesmo suportando o custo de ficar fora da competição mais importante para o Clube na época, quando ia defender o bicampeonato.


Essa decisão causou choque e com certeza houve resistências internas, mas o Clube se comprometeu de fato com a causa e foi até o fim. No final, entrou para história e se tornou o Vasco da Gama, o clube que lutou contra o racismo e ergueu um estádio pelas mãos de sua torcida.


A história não perdoa os covardes, nem o ESG.


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